O maestro e pianista esteve em Boa Vista apresentando o projeto "Orquestrando o Brasil" | FOTO: Claudia Ferreira |
Boa Vista, a cada dia, tem se tornado polo de transformação social, com fins de se tornar a melhor capital em qualidade de vida do país. E isso se reflete também no campo das artes, algo que ficou evidente neste sábado (15) com a vinda do maestro e pianista João Carlos Martins. Através do projeto Orquestrando o Brasil, apresentado em concerto na Praça Fábio Marques Paracat, a cidade ganha mais destaque por ser uma das poucas a investir em capital intelectual e artístico.
O projeto do maestro tem um foco especial: reconhecer e desenvolver talentos da música, oportunizar qualificação e difundir a cultura musical em todo o país (e até fora). Para isso, é feito um mapeamento de todas os projetos sociais na área da música – orquestras, coros, trios, quartetos, etc. – para a criação de uma plataforma didática e informativa.
Conhecendo a realidade da imigração em Roraima
João Carlos Martins chegou a Boa Vista na sexta-feira (14). Após conhecer o trabalho do Instituto Boa Vista de Música, o maestro visitou um dos 11 abrigos de refugiados venezuelanos geridos por meio da Operação Acolhida, do Exército Brasileiro, o Rondon 3. Este é o maior de todos, onde são atendidos cerca de 1000 refugiados. Ao se deparar com a realidade vivida pelos imigrantes, muitos deles, com grande talento para as artes, o maestro viu que é em Boa Vista que o trabalho deve ter uma ênfase maior.
O maestro falou com as famílias de refugiados, brincou com as crianças e se apresentou a uma plateia de pessoas esperançosas por uma vida melhor, longe da crise social e política que assolou seu país de origem. Em um momento muito especial, João Carlos Martins, acompanhado do violinista venezuelano Rafael Dommar, interpretou o Hino Nacional Brasileiro e o Hino Nacional da Venezuela.
O Projeto
O maestro conheceu um dos abrigos de imigrantes venezuelanos em Boa Vista | FOTO: Andreia Vital |
O maestro falou com as famílias de refugiados, brincou com as crianças e se apresentou a uma plateia de pessoas esperançosas por uma vida melhor, longe da crise social e política que assolou seu país de origem. Em um momento muito especial, João Carlos Martins, acompanhado do violinista venezuelano Rafael Dommar, interpretou o Hino Nacional Brasileiro e o Hino Nacional da Venezuela.
Um concerto especial, dentro do maior abrigo de imigrantes de Boa Vista | FOTO: Uiara Lopes Silva |
O Projeto
A proposta do “Orquestrando o Brasil” é oferecer capacitação para regentes e músicos, além de divulgação e apoio de espetáculos. O projeto já reúne atualmente mais de 500 grupos de todo o país, com objetivo de alcançar mais de 1.000.
“O Orquestrando o Brasil é o legado que pretendo deixar. Quero ajudar os milhares de grupos espalhados pelo país a evoluírem artisticamente, ampliando sua atuação e conquistando novos públicos. Queremos democratizar a música clássica no Brasil”, foi a mensagem de João Carlos Martins.
E a vinda do maestro a Boa Vista foi justamente com esse tom: apresentar o projeto aos produtores culturais, regentes, professores e estudantes de música. É preciso aumentar a atuação de cada um deles, estabelecer estratégias e aplica-las da melhor forma, com ênfase em um trabalho que envolva não apenas brasileiros, como também os imigrantes e refugiados.
Já no sábado (15), o primeiro encontro foi no Teatro Municipal de Boa Vista, onde João Carlos Martins teve uma boa conversa com a comunidade musical boa-vistense. Recém-formada em Licenciatura em Música, pela Universidade Federal de Roraima, Victória Luna esteve no primeiro encontro com o maestro no teatro, onde teve a oportunidade de estar entre o coro regido por ele. Além disso, a história de vida dele serve de inspiração para jovens, como ela, permanecer em dedicação no mundo da música.
“Para mim foi uma experiência maravilhosa. O ‘Orquestrando o Brasil’ é um projeto maravilhoso. Ter a oportunidade de ter sido regida por um dos grandes nomes da nossa música brasileira e do mundo e poder conhecer um pouco da história de vida do maestro João Carlos Martins é algo gratificante. Pude, pessoalmente, dizer a ele que a história de superação dele me inspira bastante a continuar na música”.
O Concerto
Mais de 170 músicos de Boa Vista se apresentaram |
No repertório, os músicos entoaram canções regionais, como Makunaimando, de Neuber Uchôa e Zeca Preto, além de temas de filmes e animações, como Aladdim. O momento mais emocionante foi a participação do próprio maestro, interpretando ao piano com as orquestras o clássico Ária da 4ª Corda (J. S. Bach), e na regência de todos os grupos, na obra Jesus, alegria dos homens, também de Bach.
Importante ressaltar que o maestro não tocava com tamanha desenvoltura há mais de 20 anos, devido a uma doença degenerativa que impediu-lhe os movimentos das mãos. Porém, há poucos meses, uma luva biônica o fez voltar à condição de seus tempos áureos, o que garantiu aplausos, lágrimas e muita esperança por parte da plateia. Ao final de sua estadia por Boa Vista, João Carlos Martins deixou claro seu sentimento: Boa Vista está no rumo certo, em se tratando de investimento e fomento à cultura.
“Tudo o que vi aqui nesta cidade me enche de esperança, pois tive o prazer de conhecer tantos talentos que com toda a certeza vão despontar Brasil à fora. Posso dizer, dentro dos meus 60 anos de experiência, que Boa Vista está no caminho certo, sendo o melhor lugar para uma criança iniciar na musicalização”, disse.
Texto: Fábio Cavalcante - @Fabiocbv
0 Comentários