Obra é inspirada em um conto da tradição popular de Cabo Verde, que passa de geração em geração por meio da oralidade |FOTO: Pabblo Felipe |
Com mais de 30 anos de experiência, a Cia Arteatro estreia, neste sábado (28) e domingo (29), o espetáculo infantil O Boi Blimundo, inspirado em um conto da tradição popular de Cabo Verde, que passa de geração em geração por meio da oralidade. A montagem também está na programação em alusão ao Dia Nacional do Teatro, comemorado em 19 de setembro.
O espetáculo conta com patrocínio da Fundação Nacional de Artes (Funarte), por meio do Programa de Apoio a Ações Continuadas em Espaços Artísticos. As apresentações serão no Espaço Usina Cultura, localizado na rua Raio Solar, 509, bairro Jóquei Clube, que abriga a Cia Arteatro e o Ponto de Cultura Usina Cultura em Boa Vista.
No sábado (28), a peça será às 19h30, e no domingo (29), às 19h. As sessões são gratuitas e livres para todas as idades. A retirada gratuita dos ingressos pode ser feita uma hora antes do espetáculo.
O Boi Blimundo conta a história de um boi forte e apaixonado pela liberdade, mas que vive em um reino dominado por um tirano. A apresentação é livre para todos os públicos e, com linguagem simples, faz uma adaptação das manifestações afro-brasileiras do bumba meu boi, levando o público à reflexão sobre temas contemporâneos.
Em 2024, a Cia Arteatro completa 31 anos de existência, sendo uma das mais antigas e experientes companhias teatrais de Roraima. Para O Boi Blimundo, Arteatro e Usina Cultura convidaram o diretor teatral e preparador corporal pernambucano Kleber Lourenço, que atua com dança, teatro e tradições populares. Os integrantes da Companhia e o diretor se conheceram dois anos atrás em Manaus, durante o XVI Festival de Teatro do Amazonas.
“O Boi Blimundo é essa figura que tem toda uma trama, está preso dentro de um reinado, sai desse reinado em busca da liberdade, até encontrar a comunidade e o quilombo dele, e é nessa comunidade que ele vai lutar para viver e sobreviver lutando coletivamente. O espetáculo, de alguma maneira, questiona esse lugar da opressão, da escravidão, que são coisas históricas do nosso país também. Então, esse boi quer ser livre, ter direitos, estar em comunidade e não viver sob um modo de escravidão, mas contamos isso de uma maneira divertida, lúdica, com dança, música, canto, teatro. É um espetáculo que reúne muitas linguagens”, explica o diretor.
A gestora do Espaço Usina, atriz e produtora cultural Silmara Costa explica que o espetáculo vem sendo trabalhado há um ano, em várias etapas. A primeira foi a dramaturgia, com adaptação do texto teatral, realizada por Aldenor Pimentel e Elder Torres.
No trabalho de direção musical, o grupo também participou de oficinas de preparação vocal e percussão, com Mestre Cazuza, que auxiliou nas canções originais criadas para Boi Blimundo. O espetáculo também utiliza toadas tradicionais de bumba meu boi na trilha.
O ator Anderson Nascimento, que também é gestor do Espaço Usina, comenta que a montagem do espetáculo está proporcionando bastante aprendizagem.
“Na questão do corpo, da voz, dos sotaques, é como se a gente a cada dia estivesse aprendendo cada vez mais e você percebe que a história, de certa forma, faz parte da nossa força, me faz pensar nas pessoas pretas da minha família, na minha ancestralidade, meu avô é um preto que veio de Aracaju e se casou com uma indígena preta, minha avó. Parece que o movimento afro está diluído e fraco, mas na verdade ele é muito pulsante e tem uma memória grande nos nossos corpos. É uma luta de liberdade que nunca acaba”, relata.
“A gente sonhou e quando esse sonho se concretiza, a gente vê que é um caminho para que as crianças indígenas e negras possam conhecer e interpretar as histórias que são delas. Essas histórias existem e precisam ser contadas, e quando a gente montou esse espetáculo a ideia era que as crianças negras ou afroindígenas se reconheçam através do canto, da dança, da história”, completa Silmara Costa.
Para a atriz Aravis que atua no teatro há apenas dois anos, a experiência está proporcionando maior domínio corporal. “Está sendo muito gratificante, estou conseguindo obter bastante conhecimento e experiência através das oficinas, do diretor que veio de fora, que também é dançarino. Então estou trabalhando o corpo e conseguindo desbravar um pouco mais meu lado artístico atuando e me expressando com o corpo”, conta.
Cia Arteatro completa 31 anos em 2024, sendo consolidada como uma das mais tradicionais companhias de teatro de Roraima |FOTO: Pabblo Felipe |
Cia Arteatro – Em dezembro de 2024, a Cia Arteatro completa 31 anos de atuação, sendo consolidada como uma das mais tradicionais companhias de teatro de Roraima. Já fez vários espetáculos como Última Estação, Navalha na Carne, O Santo Inquérito, Faustino, A Revolta dos Brinquedos, entre outros.
Mais recentemente, com o espetáculo Gotas de Saberes, a companhia levou quatro indicações, sendo premiada em duas, no XVI Festival de Teatro da Amazônia, em 2022. A apresentação do grupo levou o prêmio principal de Melhor Espetáculo da Mostra Competitiva Jurupari, de peças inéditas. Anderson Nascimento também recebeu o prêmio de Melhor Ator. A Cia ainda foi indicada nas categorias Melhor Maquiagem e Melhor Dramaturgia.
Dia Nacional do Teatro – Comemorado em 19 de setembro, o Dia Nacional do Teatro é uma forma de homenagear uma das manifestações artísticas mais antigas da humanidade, em especial os artistas brasileiros desta área. Para comemorar a data, Usina Cultura promove a roda de conversa Dramaturgias Urgentes: escritas e cenas negras, mediada pelo diretor do espetáculo O Boi Blimundo, Kleber Lourenço.
A roda de conversa é realizada em parceria com o projeto de extensão Grupo de Teatro e Performance, do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Roraima (UFRR). A atividade será no Laboratório de Poéticas, nesta terça-feira (24), a partir das 19h, localizado no Centro de Comunicação, Letras e Artes (CCLA), Bloco I da UFRR.
Durante a atividade, serão discutidos processos criativos contemporâneos nas artes da cena, destacando vozes e histórias negras. Kleber Lourenço é artista e pesquisador em teatro, dança e culturas tradicionais.
Por Gersika Nascimento
FICHA TÉCNICA:
Direção-Geral: Kleber Lourenço
Assistente de Direção: Márcio Sergino
Dramaturgia: Aldenor Pimentel e Elder Torres
Direção de Arte: Paulo Trindade
Assistência de Direção de Arte: Pam Duarte
Produção Executiva: Silmara Costa
Assistência de Produção: Izabel Grande
Iluminação: Baronso Lucena
Elenco: Aravis, Anderson Nascimento, Anne Louise, Luiza Danielle
Pesquisa sonora e músicas: Anne Louise, Anderson Nascimento, Aravis, Mestre Cazuza, Arara
Percussão e efeitos sonoros: Adriel Christian
Preparação Vocal: Babaya Morais
Oficina de percussão e tambores africanos: André Piruka
Assessoria de Imprensa: Gersika Nascimento
Comunicação Digital: Arraiabr
Desing Gráfico: Julhy Van Den Berg
Costureira: Maria das Graças Paula Gomes
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